24 novembro 2009

Apagão, o retorno - parte 2

Esta marchinha, que ouvi muito quando criança, nem precisou ser adaptada para parecer atual


Rio, cidade que me seduz
de dia falta água
de noite falta luz

03 novembro 2009

Lévi-Strauss, o homem, o mito

Fiquei triste com a morte deste verdadeiro estudioso da 'música do espírito humano'




Não sei se foi o calor senegalês nesta tarde de terça-feira, ou o quê. Mas a notícia da morte de Claude Lévi-Strauss, aos 100 anos, me pegou de jeito. "Morremos um pouco todos os dias", me vi escrevendo num email pra uma amiga, pra justificar minha tristeza.

Por que, me perguntava, não entendendo muito bem o meu estado de choque. Mas nesses tempos de Blog e Facebook não há tempo a perder: é preciso dividir a notícia com os amigos. Me apresso, portanto, em lincar para o obituário do New York Times. Como é sabido, os obituários do diário americano são conhecidos por sua parcimônia e precisão - além de nunca dispensarem o tratamento respeitoso de Ms. Isso e Mr. Aquilo.

Leio no Times algumas passagens curiosas da sua vida. Durante o período em que viveu em Nova York, diz o jornal, "ele também se tornou parte do círculo de artistas e surrealistas, incluindo Max Ernst, André Breton e a futura amante de Sartre, Dolores Vanetti. Ms Vanetti [...] costumava visitar uma loja na Terceira Avenida, em Manhattan, que vendia artefatos das ilhas do Pacífico, deixando Mr Lévi-Strauss com a 'impressão de que os tesouros mais importantes da humanidade podem ser encontrados em Nova York'".

Ler seu obituário levantou meu astral. Para os judeus, não há nada pior do que ser esquecido após a morte. Lévi-Strauss não sofrerá disso, certamente. Será lembrado por quantas gerações ainda se sucederem neste planeta que ele entendeu como ninguém.

"[A] lógica da mitologia é tão poderosa que é como se os mitos tivessem uma vida própria, independente das pessoas que os contam", escreveu ele certa vez. "Os mitos falam através da humanidade e se tornam as ferramentas para que ela chegue a um acordo com o maior dos mistérios: a possibilidade de ser não mais sendo, a própria essência da morte".

Medida de seu prestígio, o mestre francês foi homenageado pelo seu centenário em nada menos do que 25 países diferentes. Como o definiu o Le Monde, era um verdadeiro estudioso da música que pulsa por detrás do espírito humano.